30 setembro 2006

Mais uma Estrela ...



O Objectivo de fortalecer e renovar o " Chorus Auris " tem tido algum sucesso. Assim, contamos desde ontem, com uma nova Estrela, que foi, desta feita, reforçar o Naipe dos Baixos. Referimo-nos ao jovem VASCO VILARINHO, a quem apresentamos aqui os Votos de Boas Vindas, com a esperança de que fique, por muitos e bons anos, ligado à famíla do Chorus Auris ".

13 setembro 2006

Conhecendo melhor Fernando Lopes Graça ...

Fernando Lopes Graça nasceu em Tomar a 17 de Dezembro de 1906, no ano em que, na Hungria, Béla Bartók e Kodaly publicam as famosas vinte canções populares, que tanto o influenciaram. Em Setembro viera ao mundo, em S. Petersburgo, outro fenómeno da música, o compositor russo, Dimitri Chostokovich.Por um acaso da sorte, o garoto, que ouvia frequentemente a Serenata Tomarense e A Banda do Regimento, disputas entre aristocratas e republicanos, também fugia de casa para no meio do povo e aí vibrar com as rivalidades entre as bandas de Gualdim Pais e a Nabantina. Foi neste ambiente que bem cedo se põe a matraquear um velho piano, mobília do hotel que seu pai tomou de trespasse. A enorme curiosidade pelos sons vem a transformar-se num verdadeiro desejo quando, num café da cidade, ouve um trecho de O Mar, de Debussy.Do alto da sua visão castrense, o tenente Aboim, hóspede habitual, entende que o miúdo tem habilidade e leva-o a ter lições de piano com a filha do seu general. Está descoberto um génio, considerado um dos mais notáveis compositores e musicólogos de toda a Península Ibérica.Aos 14 anos, já o encontramos como concertista no Teatro de Tomar e, claro, em vez de tocar larachas para burguês cantarolar, executa compositores russos e atreve-se a interpretar O Mar, que lhe fez descobrir a música, entusiasmando a plateia que o aplaude de pé.Já formado pelo Conservatório de Lisboa, estreia-se como compositor em 1927, com a obra Variações Sobre um Tema Popular Português. As raízes populares permanecerão na sua obra como uma fonte inesgotável que nunca abandonará.Depois de abandonar a Faculdade de Letras de Lisboa, em 1931, em protesto contra o regime, termina o Curso Superior de Composição e candidata-se a professor de piano e solfejo do Conservatório. Apesar de obter a melhor classificação, não toma posse porque se recusa a assinar a declaração Cabral, na qual os funcionários públicos afirmavam não pertencer a associações secretas, eufemismo para designar o Partido Comunista.Preso e desterrado para Alpiarça, é lá que escreve Revolução e Liberdade são Sinónimos, texto que marcará a sua vida de militante pela Democracia, assinando regularmente trabalhos na Revista Presença.Em 1932 dá aulas em Coimbra, na Academia de Música, até ser novamente preso em 1936. No ano seguinte, o regime priva-o de uma bolsa de estudos que tinha ganho, mas não consegue impedi-lo de ir, às suas custas, estudar Musicologia na Sorbonne, com o mestre Koechlin.Em 1939, à beira da 2ª Guerra Mundial, entra no corpo de voluntários dos Amigos da República Francesa e colabora com os exilados da guerra civil da vizinha Espanha.Em Outubro regressa a Portugal e desenvolve grande actividade como pianista, crítico de teatro e de música, na revista Seara Nova, e sobretudo como compositor e organizador de coros, escrevendo canções, criando harmonias para cantigas populares.Nos debates afirma sem medo: «A música é a minha única religião e eu visiono uma única religião do futuro, a única religião de uma humanidade livre, justa e sábia.»Em 1941 inicia uma nova etapa na sua vida ao ingressar como professor na Academia de Amadores de Música. Anos mais tarde dirá: «A Academia é o meu lar musical.» Faz da música uma alavanca cultural em busca da democracia e da liberdade. Cria a Sociedade de Concertos com o nome de «Sonata», e percorre o País a divulgar a linguagem musical do século XX, fazendo palestras e concertos que ficam como referência e lhe granjeiam alguns inimigos de estimação no interior do regime.Na Europa, Hitler é esmagado pelos Aliados, mas neste Portugal serôdio, Salazar eterniza-se no poder e o povo sofre as agruras de um destino «orgulhosamente só».Combatente determinadoMilitante do PCP, surge como uma voz destacada no MUD (Movimento de Unidade Democrática), constituído em 1945, ao lado de figuras como a de Bento de Jesus Caraça, o grande matemático e fundador da Universidade Popular, que se unem na mesma frente de batalha, na intervenção cultural que é também política.É a grande partida para a composição das famosas Canções Heróicas, música fantástica sobre poemas arrebatadores de autores como José Gomes Ferreira (Acordai), José Cochofel (Ronda), Carlos Oliveira (Não há Machado que Corte a Raiz ao Pensamento), Luísa Irene (Cantemos o novo dia), Joaquim Namorado (Combate), Antunes da Silva, (Vinde ver a Primavera), cantados pelo Coro da Academia, com Olga Prats ao piano. Canções de intervenção que exaltam a liberdade e motivam os que lutam contra a ditadura.A primeira edição, dirigida a grupos vocais e preparada para instrumentos populares, foi confiscada pela censura. Mas tal não impediu que as Canções Heróicas fossem cantadas clandestinamente ou nos países de exílio. Em 1948, Lopes Graça participa em Praga, capital da Checoslováquia, no Congresso dos Compositores e Musicólogos Progressistas. É convidado, no ano seguinte, para júri do Concurso Internacional Bela Bartok, em Budapeste, mas a PIDE proíbe-o de sair de Portugal. A partir de 1951 dirige a Gazeta Musical e reúne à sua volta os grandes vultos intelectuais do seu tempo.A mão de ferro do Estado dito «Novo» retira-lhe, em 1954, o diploma de ensino artístico, impossibilitando-o de leccionar mesmo em sua casa. Roubam-lhe descaradamente o pão e tentam privá-lo de meios de subsistência.É então que Manuel Rodrigues, das Edições Cosmos, o convida para um projecto que sempre ambicionou, o Dicionário da Música.Em 1961 conhece o célebre etnógrafo francês, natural da Córsega, Michel Giacometti. Os ideais são os mesmos, a empatia revela-se enorme. Inicia-se uma grande amizade que haveria de produzir uma das obras mais admiráveis da música em Portugal: O Cancioneiro Popular, com recolhas dos trechos e modas cantadas nas nossas aldeias. Em 1969, a ditadura tenta esmagar a Academia de Amadores de Música, instalada há 30 anos no n.º 18 da Rua Nova do Trindade. Lopes Graça e os amigos denunciam o «escândalo». Unidos em torno dos ideais democráticos, conseguem salvar a Academia e o regime sai derrotado.Um exemplo inspiradorFinalmente o País acorda, Lisboa inunda-se de fraternidade, as ruas e as praças enchem-se de alegria, os portugueses abraçam-se com emoção, a militância e a imaginação povoam o futuro.Depois do mais extraordinário 1.º de Maio da nossa História, no dia 25, no Coliseu, um coro de homens e mulheres, gente do povo e intelectuais, todos, a uma só voz, cantam bem alto o Acordai. Foi uma noite sublime de Canções Heróicas, pela primeira vez em liberdade, com a Academia de Amadores dirigida por Lopes Graça.Entre muitas honrarias, a que por natureza era avesso, recebe, em 1976, a Ordem da Amizade dos Povos do Soviete Supremo da URSS e, em 1980, o Grande Oficialato da Ordem de Santiago de Espada da Estado português.Em 1979 apresenta o majestoso Requiem, homenagem às vítimas do fascismo em Portugal. Até à sua morte, todos os anos produz novas obras, sonatas, bailados, canções com textos de Saramago e Pessoa e até música de câmara, sempre na descoberta de novos caminhos.Em 27 de Novembro de 1994, ao fundo da Avenida da República, na Parede, numa pequena vivenda com horta e jardim, a dois passos do mar, um homem feliz, alma de democrata, coração solidário, militante convicto, recebe os amigos durante o dia. Falece durante a noite, sozinho como sempre viveu.Fernando Lopes Graça, cujo centenário do nascimento comemoramos, ficará para sempre na nossa memória colectiva não só como um compositor e intelectual de excepção, mas também como um destacado lutador pela liberdade, um militante e activista dos direitos cívicos. O seu pujante exemplo de coragem e firmeza continuará a inspirar as novas gerações na incessante luta da humanidade pelos ideais de justiça, paz e solidariedade
( Com a devida vénia à edição nº 82/Maio 2006 do Jornal do Stal )

08 setembro 2006

CHUVA DE ESTRELAS ...


Desta feita, saudamos aqui, o que se pode chamar uma " Chuva de estrelas ".
Novas aquisições na reentrada dos ensaios:
Para o naipe dos Contraltos: Alice Neves.
Para o Naipe dos Baixos: João Gonçalo e o
" repetente " Tiago Alves.
Sejam todos benvindos à família do " Chorus Auris ", e como sempre dizemos: Venham Mais Cinco ... !

03 setembro 2006

A CANÇÃO POPULAR PORTUGUESA EM FERNANDO LOPES-GRAÇA ...


Na ocasião do centenário de Fernando Lopes-Graça, a Editorial Caminho veio disponibilizar ao público uma colectânea de textos seus sobre a música tradicional que se encontravam dispersos pelos vários volumes das suas Obras Literárias. A esta colectânea associou-se um CD Rom com texto, imagens e reproduções de várias peças tratadas no livro.
Pelo interesse que nos pareceu ter, aqui se reproduz, detalhadamente, aquilo que ali é abordado.

A CANÇÃO POPULAR PORTUGUESA EM FERNANDO LOPES-GRAÇA

A Canção Popular Portuguesa em Fernando Lopes-Graça
Alexandre Branco Weffort (org.)
Ao reunir os textos e fragmentos que Lopes-Graça dedicou à canção popular portuguesa, reagrupando-os, situando-os num processo de conceptualização ou teorização e analisando do mesmo passo a presença do elemento tradicional na obra musical do compositor, Alexandre Branco Weffort presta um valioso serviço aos especialistas, aos músicos e ao público em geral. Enriquecida com esse aparato crítico, A Canção Popular Portuguesa em Fernando Lopes-Graça, incluindo as numerosas transcrições de melodias tradicionais, preenche uma lacuna na documentação disponível para o estudo e a divulgação de uma área particularmente importante do património imaterial – a das práticas musicais – e não deixará de as influenciar. O corpus de documentos coligidos contribuirá ainda, enfim, para reabrir o debate em torno dos problemas abordados.
Mário Vieira de Carvalho (Prefácio)
Índice de conteúdos:
Prefácio (Mário Vieira de Carvalho)
I INTRODUÇÃO
II Textos de Fernando Lopes-Graça sobre o folclore e a música popular portuguesa
Conceituação
1. Sobre o conceito de popular na música (1947)
2. Valor estético e significação nacional da canção popular portuguesa (1949)
3. Folclore autêntico e contrafacção folclórica (1952)
4. O problema da canção popular portuguesa (1953)
5. Uma definição de música folclórica (1953) Problematização
6. É a música folclórica uma deformação da música culta? (1953)
7. Música e regionalismo (1956)
8. Notas para um possível ideário do folclorista musical português (1957)
9. Sobre o actual cultivo da canção folclórica portuguesa (1959)
10.Tradicionalismo e folclorismo quantitativo (1965) Caracterização
11. Algumas características da canção portuguesa (1953)
12.Esboço de classificação (1953)
13.Constantin Brailoiu e a música folclórica portuguesa (1959)
14.Algumas considerações sobre a música folclórica portuguesa (1963)
15.Garrett e o Romanceiro (1954)
16.Sobre as toadas dos romances populares portugueses (1964) Tratamento
17.Sobre a canção popular portuguesa e seu tratamento erudito (1942)
18.Sobre os arranjos corais das canções folclóricas portuguesas (1956)
19.Acerca da harmonização coral dos cantos tradicionais portugueses (1965) Regiões 20.Apontamento sobre a canção alentejana (1946)
21.Cantos do Alentejo (1965)
22.Acerca do canto alentejano (1968)
23.Apontamento sobre a canção popular da Beira Baixa (1947)
24.Uma experiência de prospecção folclórica (1953)
25.Cantos da Beira Alta, Beira Baixa e Beira Litoral (1970)
26.Cantos de Trás-os-Montes (1960)
27.Cantos do Algarve (1961)
28.Cantos do Minho (1963) Crítica
29.Folclore musical português (1937)
30.Sobre o Cancioneiro Minhoto, de Gonçalo Sampaio (1945)
31.Sobre o Cancioneiro de Cinfães, de Vergílio Pereira (1951)
32.Lembrando Francisco Serrano (1982)
III ANTOLOGIA
IV LETRAS
V ÍNDICES DA ANTOLOGIA
Índice por canção
Índice por região
Índice por fonte
Índice numérico
Bibliografia de Fernando Lopes-Graça