03 março 2008

Polifonia Portuguesa I


O apogeu da polifonia portuguesa pertence mais ao âmbito religioso do que ao profano, dadas as circunstâncias que rodearam este belo florescimento da segunda metade do século XVI e primeira do século XVII. Neste contexto, a opulência polifónica figurava entre os atributos convenientes às grandes ocasiões.

O estilo dos mestres polifonistas portugueses envolve a escrita imitativa, isto é: a emitação entre diferentes vozes, que sucessivamente vão fazendo ouvir os mesmos desenhos melódicos, mais ou menos modificados, e realizando, no conjunto polifónico, uma espécie de tecido de fios semelhantes mas desencontrados.

Neste período a catedral de Évora tornou-se uma das principais escolas do estilo "a cappella", elevando a polifonia portuguesa a um dos lugares cimeiros da música europeia, com compositores como Manuel Mendes, Duarte Lobo, Manuel Cardoso, Filipe de Magalhães, Francisco Martins, Diogo Melgaz e João Lourenço Rebelo. O grande incremento que a arte musical obteve durante o século XVII deve-se essencialmente à protecção do duque de Bragança, D. Teodósio, e de seu filho, o rei D. João IV, compositor e teórico, que escreveu, entre outros livros, uma Defesa de la musica moderna (1659?). Segundo o catálogo, incompleto, a biblioteca musical de D. João IV, destruída pelo Terramoto de Lisboa, em 1755, foi uma das mais importantes da Europa não só quanto a música Portuguesa como também estrangeira; possuía, por exemplo, o manuscrito original do Micrologus de Gui d’Arezzo e quase todas as obras e numerosos autógrafos de Palestina, de Willaert, de Claudio Merulo, de Orlando di Lassus e de Monteverdi, entre outros.

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