11 junho 2007

CHORUS AURIS à “conquista” de Espanha

Ao partir, na madrugada do passado dia 2, em direcção a Linares, na província andaluza de Jaén, o Chorus Auris realizou um desejo com mais de três décadas – o de actuar, pela primeira vez, em terras de “nuestros hermanos”. Após alguns convites que, por vicissitudes várias, nunca fora possível concretizar, desta vez o sonho materializou-se graças à amabilidade do Coral Andrés Segovia, ao empenho da Direcção da AMBO e à disponibilidade da maestrina e dos coralistas que, mesmo enfrentando uma desgastante viagem de autocarro de 10 horas, fizeram questão de levar bem longe, uma vez mais, o nome da Academia e de Ourém participando no “VIII Encuentro de Corales”, integrado no X Festival Internacional de Música e Artes Escénicas da cidade de Linares, que decorre de 13 de Abril a 16 de Junho.
E pode dizer-se que o nome da região saiu novamente dignificado pois, ao subir ao palco do magnífico Teatro Cervantes, o Coro foi calorosamente recebido por uma larga plateia que não regateou aplausos ao longo da actuação, que incluiu também o Coro anfitrião e o Coro de Câmara “Ubi Sunt” de Mérida. Com um programa que despertou a atenção dos presentes pela diversidade de estilos musicais, o Chorus Auris interpretou sete peças de autores como Lopes Graça, Mozart e Haendel, tendo sido acompanhado ao piano em quatro delas pela Valentina Ene, para quem fica uma palavra especial de agradecimento pela forma aberta e empenhada com que aceitou substituir, nesta deslocação, o habitual pianista do Coro.
Após o espectáculo que terminou por volta das 23.30h seguiu-se um lauto jantar, digno do melhor estilo “casamenteiro”, onde se puderam degustar algumas das especialidades gastronómicas desta conhecida região mineira e taurina da Andaluzia. Só para causar alguma inveja, sobretudo aos que permanecem hesitantes quanto às suas capacidades vocais e ainda não se decidiram a integrar as nossas hostes, aqui fica um excerto do menu: Mini Empanadilla de Bonito, Morcilla en Caldera com Ochíos, Berenjena Rellena de Marisco Gratinado, Sorbete de Limón, Lomito de Lenguado al Azafrán... Com isto e muito mais, por entre copos e cantigas, eram três da manhã quando os últimos convivas abandonavam a sala do famoso Hotel Aníbal, unidade hoteleira de quatro estrelas onde os nossos simpáticos e acolhedores amigos espanhóis fizeram questão de nos hospedar. Face a este principesco tratamento é mais que justo agradecer, na pessoa do incansável presidente do Coral Andrés Segóvia, D. Luís Molina, a forma inexcedível com que fomos recebidos pelo que, inevitavelmente, caiu por terra o velho adágio que afirma “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. No que nos diz respeito podemos afirmar que este foi um óptimo “casamento”, não apenas pelos aspectos já descritos, mas também porque estamos na presença de um grupo coral de enorme qualidade artística, com provas dadas em Espanha e noutros países e que, inclusivamente, já actuou no Vaticano perante a corte papal. Resta-nos, pois, esperar que possamos recebê-los em Novembro de forma condigna (por favor, forças activas da região, estejam atentas...) e que, no futuro, estes laços possam vir a estreitar-se com outros intercâmbios.
Para finalizar, uns breves apontamentos que podem ajudar o leitor a aquilatar melhor da importância desta deslocação. A cidade de Linares e o próprio hotel que nos acolheu são mundialmente conhecidos por albergarem o mais famoso torneio de xadrez do mundo, por onde têm passado desde a 1ª edição em 1978, “monstros sagrados” desta modalidade como A. Karpov, G. Kasparov, V. Korchnoi, V. Anand, entre inúmeros outros.
Mas a sua maior projecção internacional está ligada ao incontornável nome de Andrés Segovia, o maior guitarrista de todos os tempos, figura agraciada com inúmeras distinções académicas e musicais e, sem dúvida, o mais famoso filho dilecto de Linares. Ao longo dos seus 94 anos de vida, Andrés Segovia conseguiu fazer com que a guitarra passasse de um instrumento menor, usado nas tertúlias boémias, a um dos instrumentos mais apreciados nas salas de concerto de todo o mundo e, talvez, o instrumento para o qual mais obras foram compostas. Não sendo muito conhecido em Portugal, apesar de ter actuado nas principais cidades do país (Lisboa, Porto e Coimbra), Andrés Segovia é uma figura maior no país vizinho. Pois esta viagem teve, também, o condão de permitir aos elementos da comitiva oureense contactar de perto com esta realidade através da visita à casa-museu deste brilhante músico que comparava a guitarra a uma mulher, com os seus humores, com os seus mistérios... E quando, em jeito de homenagem, agradecimento e despedida, o Chorus Auris interpretou neste belo espaço, precisamente no dia em que decorriam 20 anos sobre o falecimento do músico em Madrid, «São horas de emalar as troixas», foi brindado com estas simpáticas, calorosas e sábias palavras do seu amigo e biógrafo, D.Alberto López Poveda: «São vozes do céu. Um dia, após um concerto de Andrés Segovia em Barcelona, disse um crítico musical: “o piano é um discurso; a harpa é uma elegia; a guitarra é uma canção”. Vocês acabaram de fazer aqui uma canção. Muito obrigado.» Perante isto só nos resta dizer: Bem hajam, D.Alberto, D. Luís, Coral Andrés Segóvia. Muchas gracías!

4 comentários :

Skywatcher disse...

Muito Parabéns ao autor de tão brilhante texto. Como é seu apanágio, foi claríssimo na descrição da magnífica deslocação a Espanha. Bem Hajas.

RM9 disse...

Como sempre a distribuir palavras simpáticas... és um autêntico camar... ups! companheiro. Thanks!

FM stereo disse...

Mais um texto fantástico do RM relatando de forma sistematizada e rigorosa os aspectos mais significativos da digressão a Espanha. Eu e penso que todos os colegas do Chorus Auris, gostariam de contar com o RM, para relator oficial da digressão a terras gaulesas.

Rosa dos Ventos disse...

Como sempre um repórter de *****!